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terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Feliz Natal! (Conto, resultado e meio aniversário)

A essa hora, tá todo mundo de bobeira, comeram tudo que nao podiam, abriram todos os presentes... Eu, por minha vez, vou fazer esse post, tomar um café e passar o resto do dia jogando Fruit Ninja ou Slender.
Maaaaaaaas eu tenho 3 boas novas.

A primeira, pequena, é que hoje o Bunny Books faz seis meses. Eu nem lembraria se não fossem os seis meses do Viajante literário, já que parte da "culpa" desse blog existir é do Caleb, que me fez pensar "oquei, porque eu nao tenho blog também mesmo?" E ele fez esse layout lindo que faz com que eu nunca tenha coragem de deletar o blog. Então um muito obrigada a todo mundo que me acompanha nessas loucuras literárias.
A segunda, muuuito legal, é o resultado do Sorteio de Êxtase:

a Rafflecopter giveaway
Parabéns Mariiiiiiii!!! Tô mandando email agora :D

A terceira e mais importante pra mim pessoalmente é que enviei um conto de natal para uma antologia e fui selecionada. A Antologia chamada "Natal Fantástico" está disponível de graça e vocês podem solicitar junto a editora Infinitum Libris (facebook aqui) e deixando comentário aqui mesmo com email para eu enviar.
Por fim, deixo aqui o meu conto que está na antologia citada. Feliz Natal :)


O Natal dos Gêmeos
(por Priscila Boltão)

Brian Wilcox sempre foi uma criança difícil. Dizia-se em Little Oak que, desde o nascimento, notava-se a diferença entre ele e a irmã Brianna. A lenda era que, durante o nascimento dos gêmeos herdeiros da maior fortuna da cidade, a garota foi socorrida as pressas, pois não chorava, e a parteira pensou que ela não respirava. Brian, por sua vez, foi socorrido às pressas pois chorava como se estivesse com um osso quebrado.
Ao longo dos anos, a diferença dos gêmeos apenas se acentuou.  Ninguém lhes prestou muita atenção, dizia-se apenas que a agressividade de Brian era como os meninos eram, a passividade de Brianna era a virtude de uma dama. Mesmo quando os pais descobriram os passarinhos mortos no bosque e sabiam que havia sido ele. Mesmo quando os hematomas na pele de Brianna eram notáveis.
Mas o inferno só se tornava impossível de ignorar no natal. Começava no dia primeiro de dezembro, quando as crianças ganhavam uma pequena alegoria com vinte e quatro janelas, cada uma a ser aberta em um dia da contagem regressiva até a véspera do feriado. Brian ia ficando cada dia mais desapontado e mais irritado com o tamanho dos pequenos presentes,  e antes de chegar a vinte dias da brincadeira,  Brian já teria destruído sua alegoria e a da irmã, pegando todos os presentes para si.  Brianna não se opunha. Ela nunca se opunha a nada.
Então veio o sétimo natal. O ano tinha transcorrido de forma ligeiramente mais tranqüila, depois que os pais dos gêmeos contrataram uma nova babá. Ela havia sido escrava no sul dos Estados Unidos, então não se impressionava com uma criança mimada, por mais cruel que fosse. E principalmente, era uma boa companhia para Brianna.  Até então, a garotinha nunca havia tido outra companhia além dos pais e do irmão, e ao longo dos meses, os hematomas foram diminuindo, embora não sumissem completamente.
Dez dias antes do natal, quando Brian já havia destruído as alegorias – ganhando um olhar reprovador da babá – os pais perguntaram às crianças se não iam escrever cartas ao Papai Noel. Antes que aprendessem a escrever, os pais escreviam as cartas para saber o que as crianças queriam, mas agora, eles diziam, os dois já podiam escrever por si mesmos.
Brian estava na sala de brinquedos, esticando o gato da família enquanto este se debatia, quando a mãe passou.
- Brian, querido – ela disse, sem prestar muita atenção – garotos malvados não ganham presentes. Só carvão. Quer que o Papai Noel lhe dê um pedaço de carvão?
Brian deu de ombros. Todo ano os pais faziam a mesma ameaça, mas todo ano, lá estavam seus presentes vistosos e enormes sob a árvore. Ele acariciou o gato, como se estivesse arrependido, até que a mãe saísse. Antes de sair, porém, ela chegou perto de Brianna, que confabulava com a babá sobre a escrivaninha a um canto.
- O que está fazendo, querida?
Brianna não respondeu. Ela quase não falava estes dias, e os pais assumiam que estava chateada com o irmão. Quando ela ficou em silêncio, a babá respondeu.
- Ela está escrevendo para o papai Noel.
A mãe saiu satisfeita, pensando que logo Brianna melhoraria de humor, após ganhar a boneca ou casa de bonecas ou vestido ou o que quer que fosse. Brianna, no entanto, parecia ter recomeçado a carta no outro dia. A babá disse a mãe que a garota tinha se irritado com os próprios erros de ortografia e começado de novo.
Depois que a mãe saiu do recinto, porém, Brian se aproximou.
- Por que você mentiu? – ele disse em tom acusatório – ela não jogou a carta fora. Eu vi ela terminar e você esconder a carta no avental.
A babá olhou nos olhos azuis e cruéis do garoto a sua frente e gaguejou por um minuto. Então olhou para Brianna.
- Tudo bem, Bá – a garotinha disse, naquele tom modesto, quase um sussurro, que sempre usava – logo ele vai saber mesmo.
A babá abriu um sorriso. Brian deu um passo para trás, pego de surpresa. Ele conhecia aquele sorriso. Não era um sorriso comum – era um sorriso maldoso, que ele mesmo sempre costumava dar quando matava animaizinhos ou batia na irmã quando ninguém estava olhando.
- Bem, você sabe – ela disse – eu e sua irmã estamos contando ao papai Noel que você tem sido um garoto malvado. E que merece apenas carvão neste natal.
- Papai Noel não existe – Brian falou, embora não se sentisse muito seguro diante da confiança da babá. Ele lançou um olhar as costas da irmã que ainda escrevia antes de continuar: - Eu sei que são meus pais que dão os presentes, e eles me dão o que eu quero não importa o que eu faça.
- Bem, você está enganado – a babá falou, dando de ombros – ele existe e eu sei como entregar uma carta a ele. Aprendi muitas coisas com minha avó, que era feiticeira em uma tribo africana antes de ser escravizada pelos americanos. Aprendi a contatar criaturas místicas, desde um dybbuk judeu até o seu Papai Noel cristão. E posso entregar a carta da sua irmã a ele se eu quiser.
- Você é doida – Brian disse, e percebeu, com raiva, que a voz tremia tanto quanto os joelhos, por mais que ele quisesse disfarçar – eu vou ganhar o que eu quero nesse natal. Eu sempre ganho o que quero.
A babá abriu a boca, mas foi Brianna que falou, sem se virar.
- Eu não apostaria nisso se fosse você.
Brian não dormiu nos dias seguintes. Cada vez que cochilava, tinha sonhos onde era enterrado em carvão. Acordado, a todo o momento pegava a babá lhe sorrindo, ou a irmã, séria, o encarando. Nunca tinha lhe ocorrido que Brianna tinha algum rancor. Ela era para ele um brinquedo, uma boneca que podia quebrar e remontar. Nunca havia pensado que ela poderia tentar arruinar seu feriado favorito.
Na véspera do natal, porém,  ele tentou se acalmar. E daí que a babá ia fazer alguma feitiçaria para que ganhasse carvão? Certamente seus pais não tomavam parte nisso. Ele ainda ganharia presentes. E se não ganhasse, faria um escândalo, sempre funcionava. E depois, faria com que aquela mulher fosse demitida. E pensaria em algo para fazer com a irmã.
Então, quando ouviu o barulho, estava começando a dormir. Mas não se surpreendeu. Meio que estava esperando que a irmã ou a babá fizessem algo para tentar assustá-lo. Brian se levantou, se enrolando em um cobertor por cima do pijama, e seguiu o som de batidas, pronto para gritar com alguém, descendo silenciosamente as escadas.
Primeiro ele viu a árvore no canto, os presentes enormes embrulhados embaixo, e sorriu. Então quase rolou escada abaixo quando pisou em algo duro em seu caminho.
Um pedaço de carvão.
Seu coração acelerou. Era coisa de Brianna, claro, mas teria sido mais impressionante se ela tivesse tirado seus presentes de sob a árvore, e se não tivesse feito o que parecia uma trilha de pedaços de carvão.
Então ao dar a última volta na escada, Brian notou que algo bloqueada a luz que vinha da lareira que os pais certamente deveriam ter apagado.
Um homem gordo e vestido de vermelho.
Ele se virou quando Brian soltou uma exclamação de surpresa, e parecia ter estado ocupado em acender a lareira que dava para a chaminé – de onde, Brian agora tinha súbita certeza, ele tinha vindo.
- Brian, não é? – o homem abriu um grande sorriso bondoso atrás da barba branca. – Muito prazer, chegue mais perto. Eu sou...
- Não – Brian disse, assustado, o coração se apertando no peito.  – Você não é real.
Mas se ele era real...
- Ora – Papai Noel pareceu contrariado, apoiando um joelho no chão para se aproximar da altura do garoto – Você não é meio novo para não acreditar em mim?
Brian não conseguia respirar. Ele ponderou por alguns instantes antes de decidir ser o mais direto possível.
- O senhor... veio trocar meus presentes por carvão?
- Por deus, não! – Papai Noel riu – Eu raramente dou carvão. Ah – ele disse, parecendo entender – não, esses pedaços de carvão no seu caminho devem ser coisa da sua irmã.
Brian riu, aliviado. Seu corpo relaxou e ele começava a se sentir excitado por estar na presença do próprio Papai Noel. Então o velho se sentou na poltrona do seu pai e coçou a barba, sério.
- Agora... eu tenho um problema. Veja você – ele disse, calmamente, fazendo o coração de Brian acelerar em alerta novamente – Sua doce irmã Brianna me mandou uma carta. Hoje em dia eu já quase não recebo cartas, pois poucos conseguem ter mágica suficiente para me encontrar, mas quando as recebo, preciso entregar o que me pedem.
Ele ficou em silêncio e Brian fez a pergunta.
- O que Brianna pediu?
Papai Noel estalou os dedos e um elfo apareceu. Ele era verde,da altura de Brian, com orelhas pontudas e usava uma ridícula roupa verde com sininhos. Ele entregou ao Papai Noel um pedaço de papel.
- Querido papai Noel – leu o velho no papel – não quero lhe pedir brinquedos. Só o que quero é que acabe com meu irmãozinho, Brian. Ele é malvado e cruel, mata meus bichinhos de estimação e me bate quando ninguém vê. Meus pais não acreditam em mim, ou não se importam. A minha Bá disse que você entrega carvão aos meninos malvados. Mas não é o bastante. Não quero mais nada, Papai Noel, só quero que me livre do Brian.
Ele terminou a leitura e olhou para Brian, com um olhar de interrogação. O garoto começou a ofegar.
- Por favor. Por favor – ele não sabia o que dizer. Tentou sorrir – Eu sei, eu não fui bom para ela. Vou ser a partir de agora. Nunca mais encosto naquele gato dela. Nunca mais puxo o cabelo dela. Juro, nunca mais machuco Brianna.
- Não, não – o papai Noel disse em um tom suave e bondoso que não condizia com a situação – veja, eu tenho que entregar exatamente o que me pedem. Não foi isso que ela pediu, que você não a machucasse. Ela pediu que me livrasse de você.
- Mas você é o papai Noel! – o garotinho disse, mais assustado do que já se sentira – você não pode me matar!
- Matar! Por Deus – o velho riu – claro que não vou matá-lo!
-Então... – Brian resmungou, sem entender o que ia lhe acontecer.
- Você vai trabalhar para mim – o tom do Papai Noel era bem menos bondoso agora – não se preocupe, não é nada demais. Você vai ajudar na fábrica de brinquedos. Vou levá-lo agora.
Ele estalou os dedos novamente e outro elfo apareceu, segurando aberto um grande saco vermelho.
Esse elfo também tinha a altura de Brian.
- Não... eu não...
- Oh, por favor – o Papai Noel disse, agora soando maldoso, interrompendo Brian, que tremia – você vem por bem ou vou obrigá-lo. Você acha que é uma situação incomum? De onde acha  que eu arranjei elfos suficientes para fabricar presentes para crianças do mundo todo? A maioria deles recebeu o carvão como um aviso, mas no seu caso não achei necessário. Não quando sua irmã me pediu de modo tão direto.
Brian tentou correr, mas se sentia congelado no lugar. Os elfos olhavam para ele com pena.
- Agora, vamos – o Papai Noel estava impaciente – se despeça da sua irmã e vamos.
Brian olhou em volta e viu Brianna, alguns degraus da escada acima, com a babá. Ele quis pedir ajuda, mas a língua parecia grudada no céu da boca.
Então ele viu que Brianna sorria. Nunca em suas curtas vidas, ele tinha visto a irmã sorrir. Ele não permitiria, vê-la sofrer lhe dava satisfação. E agora, ali estava ela, olhando para ele com um sorriso enorme que parecia querer compensar todos os sorrisos não dados. Ela acenou.
- Tchau, Brian – a garotinha disse, o tom de voz mais alto e alegre do que era antes.
Papai Noel pegou o garoto pelo tornozelo, jogando-o, sem poder se mexer, na escuridão do saco. O velho ainda parou para sorrir e desejar um Feliz Natal a Brianna  - que sabia que agora todos os natais seriam mais felizes - e à babá, antes de sumir com os dois elfos verdes e o garoto que em breve seria como eles.
Nunca mais se ouviu falar de Brian Wilcox.



3 comentários:

Giulia Ladislau disse...

Parabéns pelo conto e pela seleção. Não desista de escrever, viu? ;)
Beijinhos!
Giulia - prazermechamolivro.com

Caleb Henrique disse...

Puxa vida! Olha eu aqui todo orgulhoso por diversos motivos. São seis meses! Passou muito rápido, não concorda? Parabéns a nós! E que feliz estou pela Mari! Mas estou ainda mais feliz por você, Ms. Boltão.
Você merece isso e muito mais, viu?
A coletânea ficou linda. Seu conto é incrivelmente bem escrito e envolvente. Mas este é apenas o começo. Você vai longe. Sei disso.
Agora, me responde o que se faz quando não existe uma quantidade suficiente de "Abacaxi's" para dar nota ao seu conto? É, difícil.. fiquemos então com o Abacaxi vezes um oito de cabeça para baixo.

Assim me despeço, com a promessa de voltar.
E como há braços, abraços.
Caleb Henrique - Viajante Literário

Luene disse...

Feliz Natal, Pri (hiper atrasado! hahaha). E um feliz 2013 viu!!

Fiquei super feliz quando vi que seu conto foi selecionado!! Parabéns!

Como da última vez que li um conto seu, repito: você escreve muito bem! Adorei o conto dos gêmeos (sou gêmea, lembra?! meio assustador hahaha).

Beijos e quero ler mais contos seus *-*

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